As notícias de abusos sexuais de crianças e jovens têm-se revestido de particular espectacularidade nos últimos tempos. O caso mais recente é notícia no DN de hoje, num artigo que acho particularmente curioso. A jornalista teve o cuidado de valorizar aspectos que não são habituais:
“Um sofrimento visível no rosto cansado de uma mãe que recebe o DN à porta (…) "A minha mais nova, desde que viu a nossa vida escarrapachada no jornal, fechou-se no quarto e ainda não saiu. Ainda por cima chamam-lhes deficientes, elas não são deficientes".
Este pequeno excerto suscita algumas questões que vale a pena reflectirmos.
- Os abusos sexuais infantis ocorrem no contexto de uma relação de poder, do mais forte sobre o mais fraco, e caracterizam-se pela síndrome do segredo. A natureza deste tipo de mau trato, e do incesto em particular, leva a que se construa um muro invisível em volta das vítimas, impenetrável, que permite que sejam abusadas no mais absoluto silêncio.
- A desprotecção dessas crianças que ao longo de anos foram vítimas de abuso sexual, sem que ninguém identificasse sinais de sofrimento, desde a própria família, à escola e a todos aqueles que as conheciam.
- A forma sensacionalista como a comunicação social trata as crianças vítimas de maus tratos, não se preocupando com a protecção do seu nome e imagem. A vida dessas crianças é absolutamente exposta aos olhos da sociedade sem qualquer pudor. É evidente a necessidade de não se revelar nenhum dado que identifique a criança, em concreto.
- A importância de se investir na construção de uma rede de intervenção especializada, integrada, de âmbito sócio-judicial e terapêutico.
- A importância do papel das Comissões de Protecção de Crianças e Jovens:
... na modalidade Alargada, com a aposta numa cultura de prevenção dos maus tratos infantis;
... na Comissão Restrita, através do investimento no reforço da protecção.
- A necessidade de se avançar para a criação do Provedor da Criança.
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