As Faces Ocultas da Criança
Existe mais mundo para além das coisas que aparecem na comunicação social, uma vezes verdadeiras e outras vezes nem por isso. Assim, não vou falar de défice, nem de orçamento, nem da Cimeira da NATO, nem de qualquer assunto político considerado relevante. Quando a comunicação social trata dessas e outras matérias, transmite-nos a ideia que a preocupação é o bem estar das pessoas, mas geralmente é apenas um pretexto para tratar de outras coisas.
A forma como as crianças são tratadas (ou não) na comunicação social é um bom exemplo disso. Quando é que são assunto de primeira página? Quando está em causa atacar ou proteger figuras públicas, interesses parentais ou profissionais, instituições e governos. Quando se trata de alimentar uma novela deixam-se facilmente comover com os assuntos das crianças. Mas de resto não se "passa nada".
19 de Novembro - Dia Mundial para a Prevenção do Abuso de Crianças, data que continua a passar despercebida, tal como aconteceu com a celebração do 21º Aniversário da Convenção sobre os Direitos da Criança, no passado dia 20 de Novembro. Não vou escrever sobre a importância da comunicação social assinalar estas datas e assim contribuir para sancionar o abuso sobre as crianças. Na verdade pouco adianta apelar ao seu papel pedagógico.
As crianças estão para além do défice. Independentemente do estado das contas públicas, todos os dias há crianças abusadas. A maioria no seio da família. O Tiago (nome fictício) foi abusado reiteradamente durante três anos, no seio da família, sem que a família alargada, os vizinhos ou a professora, dessem por isso. A história aconteceu recentemente numa pequena comunidade, tal como tantos outros casos de abuso sexual e maus tratos que acontecem todos os dias à nossa volta.
É comum ouvirmos relatos sobre o comportamento das crianças como se de pequenos adultos se tratassem. Todos conhecemos histórias de crianças pequenas, de cinco/seis anos, que batem violentamente nos colegas e que são sancionadas como se fossem adultos em miniatura. Crianças vítimas de histórias familiares de sofrimento, de quotidianos difíceis, vítimas de situações imperceptíveis aos nossos olhos, que crescem sob o olhar crítico de uma sociedade que distraidamente não lhes dá colo.
O estado da infância melhorou muito nas últimas décadas. No entanto, ainda temos um longo caminho a percorrer. Por um lado, continuam a persistir velhas e novas formas de maus tratos. Por outro lado, as crianças são fonte de novos desafios para quem pretenda contribuir para uma sociedade mais desenvolvida.
Numa época em que são um bem raro, deviam ser alvo de maior interesse. Mas não, os assuntos das crianças continuam a ser questões menores das agendas científica, política ou da comunicação social. No meio de uma crise financeira e económica internacional, com forte impacto sobre os Estados, quem se lembra que há crianças a serem vítimas de negligência e maus tratos? Certamente só quem não tiver nada de mais sério para tratar, pensam alguns. Nada de mais errado!
Elas são o verdadeiro Património de toda a Humanidade.
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