VIVEMOS TEMPOS AMBIGUOS
Hoje vivemos tempos onde tudo acontece. No momento de fazer o balanço de 2010, há três acontecimentos que quero destacar pelo que representam. A razão da escolha é simples: os três são exemplo da complexidade dos tempos, de como é importante questionarmos o sentido das coisas e mantermos uma atitude de alerta, sem nunca perdermos a esperança. A evolução das sociedades continua a fazer caminho e os seres humanos são capaz de fazer coisas boas, assim o desejem.
1. Mineiros do Chile.
O exercício da política e da cooperação entre os Estados, no seu melhor. Os trinta e três mineiros soterrados a setentcentos metros de profundidade, foram resgatados com vida ao fim de sessenta e nove dias.
Este acontecimento também é expressão do melhor dos Seres Humanos. Durante o período em que tiveram soterrados, aqueles homens conseguiram manter a esperança, acreditar que quem estava à superfície não os ia abandonar. E, muito importante, tiveram a inteligência de não desesperar. A capacidade de resistência, organização, cooperação e solidaredade entre eles, é um exemplo para o mundo.
2. Mulheres vítimas de violência doméstica.
Segundo os dados conhecidos, morreram durante este ano quarenta mulheres vítimas da brutalidade de homens com quem tinham estabelecido uma relação conjugal ou de namoro. Todos sabemos que este problema também atinge os homens, a grande diferença é que nas mulheres mata.
Infelizmente é um mau sinal dos tempos. Essas mortes teriam tido outro impacto na sociedade se as quarenta mulheres tivessem sido vítimas em simultâneo, de um qualquer acidente ou fenómeno natural. Assim, morrem sozinhas. Para trás ficam crianças, familiares e um mundo de problemas graves por resolver. E uma notícia breve na comunicação social que a curto prazo se apaga das nossas memórias.
No ano que entra, um dos desafios da sociedade portuguesa é assumir, inequivocamente, uma atitude de repugnância e tolerância zero para com a violência doméstica, de que as mulheres são as principais vítimas mortais.
3. Dilma Rousseff, eleita Presidente do Brasil.
Este acontecimento é curioso pelo sinal que dá do estado da democracia a nível mundial. Recordo que na comunicação social era atribuída especial importância ao facto de ser mulher, uma característica pessoal que pouco terá a ver com ideologia ou competência. Mas a verdade é que, tal como dizem muitos analistas políticos, a eleição de uma mulher é um sinal de emancipação da democracia e vai reforçar a atenção sobre o Brasil.
Actualmente, segundo uma organização dos Estados Unidos, as mulheres apenas ocupam a Presidência em 16 países, num total de 192. E mesmo assim, ainda se continua a ouvir dizer "parece quase um homem", expressão utilizada para demonstrar a coragem e competência das mulheres que ocupam cargos de liderança.
A parte positiva é que as mulheres estão a ultrapassar preconceitos e a deixar de estar sempre a ter de dar provas da sua competência. Recentemente, ouvi uma pessoa dizer com ironia "As mulheres ainda precisam de conquistar o direito a ser tão incompetentes como os homens". A questão central não é de quem é melhor ou pior, mas sim de respeito mútuo. Acredito que um dia o poder será distribuído de forma mais equitativa entre homens e mulheres, há países que já fizeram o seu caminho, sobretudo no norte da Europa.
Ao fazermos uma retrospectiva por 2010, encontramos bons exemplos do melhor do ser humano. O resto é um percurso que todos temos que fazer, cada um no seu papel, com vista a uma sociedade mais equitativa e de maior respeito pelos direitos humanos.
Bom Ano Novo de 2011!
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