Escrevo esta crónica a pensar que os tempos são, sobretudo, propícios para observar atentamente o que está a acontecer à nossa volta e no mundo.
A manifestação do passado dia 12 é disso exemplo. O que assistimos foi um sobressalto de cidadania? Foi uma manifestação contra um modelo de sociedade? Um grito da geração, das gerações à rasca ? Uma força emergente para um Portugal que se quer transformar num país moderno e desenvolvido? Que atores apareceram a afirmar algo de novo e revolucionário?
É inquestionável que os jovens de hoje são os mais bem preparados, que têm poucas oportunidades profissionais e que é legitimo terem melhores expectativas. Mas por outro lado, vivem num País onde o peso da população empregada, entre os 20 e os 64 anos, com habilitações escolares até ao ensino básico é de 63%, contra 21% na União Europeia (dos 27 países).
A essa realidade, e não obstante o esforço que tem sido feito, acresce a taxa de abandono escolar que continua a ser superior à média da União Europeia (31,2% em Portugal, e 14,4% na União Europeia). A questão é fundamentalmente de valores e as responsabilidades são partilhadas. A educação tem de ser um valor para todos e estes números dizem que ainda estamos longe disso.
Num mercado de trabalho que subiste com uma percentagem tão significativa de trabalhadores com baixas qualificações, onde é que entram os jovens licenciados que se encontram desempregadas? Que sinal é que estamos a dar da nossa economia, do nosso sector empresarial? Provavelmente que o nosso mercado de trabalho precisa de se qualificar, de se modernizar para ser mais competitivo.
O mundo está a mudar todos os dias. A economia ocidental atravessa uma crise profunda e Portugal não tinha, nem tem, uma economia forte. Há desafios pela frente que ninguém pode ignorar e a geração jovem tem um papel importante no futuro de Portugal. Mas, muito provavelmente, a actual conjuntura económico-financeira não permite mudanças profundas a médio prazo.
A nível político, o problema não é de hoje e atinge tanto os Partidos do arco da governação, como os outros Partidos Políticos porque se estes tivessem uma proposta alternativa, ela já tinha surgido. O mais interessante, todavia, é que a contestação da "geração à rasca" contribua para melhorar a cooperação e o desempenho político, em geral, porque os jovens têm esperança.
A forma como se manifestaram foi um exemplo de cidadania. Com energia, coragem e determinação, mas num espírito de profundo respeito pela sociedade onde vivem. O rastilho que se propagou não foi de violência, foi expressão de um País com uma democracia assente nos valores: "Respeito" e "Tolerância". Se conseguimos dar um exemplo destes à Europa, também devíamos conseguir mobilizar vontades para construir um País mais sustentável para todos.
Sem comentários:
Enviar um comentário