Criei este blog enquanto instrumento de aproximação às cidadãs e aos cidadãos. É um conceito simples que visa partilhar os percursos, o trabalho e a visão das coisas de uma mulher, cidadã, politicamente comprometida no exercício da sua primeira experiência parlamentar e conhecer as opiniões e sugestões de quem me contacta, por exemplo, as suas.

A José Nascimento e António Barbosa agradeço respectivamente, a fotografia e a música.

Troka de Natal

Celebra-se o Natal.

Eu celebro o Natal

Tu celebras

Ele (a) celebra

Nós celebramos

Vós celebrais

Eles (as) não celebram o Natal.

Este Natal conjuga-se como todos os outros com fraternidade, solidariedade, humanismo e com tudo o que cabe no espírito de quem sente compaixão pelo Outro pelo simples facto de ser um Ser Humano. Mas há pessoas que não sentem o mesmo. Divididos em quatro grupos - os zangados, os secos, os moles e os molhados - constituem um grupo mais alargado de pessoas que não celebra o Natal. Nestes grupos não se incluem as pessoas que estão em situação de vulnerabilidade ou com dificuldades sérias.

O grupo dos zangados é formado por aqueles que optaram por uma vida a preto e branco, sem brilho, nem esperança. Alguns até decidiram que não havia um único apontamento de Natal nas ruas, nem uma simples arvorezinha de Natal, daquelas artificiais. Não deixam que se aceda uma luzinha para que ninguém se lembre de ser feliz só porque é Natal. Os zangados primam por se considerarem muito realistas, por acharem que são a consciência do mundo.

Contra o mito que o consumismo mata o espírito natalício alguns decretaram o fim da troka de presentes. As pessoas que ignoraram "O decreto da razão pura" sabem, e bem, que oferecer um presente significa dizer "Lembro-me de ti". Nesse grupo incluem-se os secos: não têm nada para dar, nem imaginação para tal. Proponho que se trokem por pessoas que gostam de ver um sorriso na cara de um amigo.

Os moles são isso mesmo: moles. São um tédio. Estão sempre a mandar a baixo, a desvalorizar a energia dos outros como se fosse sintoma de um certo estado de alienação. Alguns tornam-se chatos, o seu lema é: "Bem te dizia", expressão auto-revigorante ao verem confirmadas as expetativas de que as coisas podem correr mal e por isso não vale a pena mudar. Este grupo apesar de ser mole pode ser perigoso caso este ano também se celebre o Natal. Assim, vêem contrariado o seu lema porque apesar das dificuldades as pessoas mantêm o alento e o grupo sente-se ameaçado.

Finalmente temos o grupo dos molhados. A vida é feita de lamúrias, nada está bem, choram por tudo e por nada, são uns internos insatisfeitos. O pior é estarem convencidos que são os únicos a sofrer, tornam-se vítimas de si próprios e não se deixam invadir pelo espírito de Natal. A maioria nunca se confrontou com problemas graves, não sabe o que é a fome ou a pobreza. Alguns vivem na abundância. 

Claro que tudo isto tem enormes consequências para o País. Por isso proponho que todos sejam trokados por um grupo de pessoas diferentes, por aquelas que apesar de tudo acreditam em si e mantêm a esperança, que não emigram para longe das dificuldades. Estas pessoas sabem que podem fazer Timor da sua rua, que Portugal precisa deles para mudar para melhor. Este grupo sente que o Natal é sempre que um Homem quiser.

A Ode, de Fernando Pessoa, é a minha lembrança de Natal.

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes,
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

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