Transparência, Solidariedade e
Urbanidade (TSU)
No dia 15 de setembro manifestaram-se
contra o aumento brutal da Taxa Social Única (TSU), correspondendo na prática a
uma quebra significativa dos salários, sem retorno evidente. As pessoas
insurgiram-se contra uma má opção para atingir as metas previstas no memorando
da Troika, uma opção injusta perante
os sacríficos dos portugueses. É importante recordar que o memorando inicial
era um compromisso nos objetivos, não nos meios.
No entanto, há outra TSU, aquela que
congrega o capital de esperança de todos os que sabem que existem alternativas
ao atual modelo económico e social. É fundamental que exista sensibilidade
política para perceber e incorporar a taxa de esforço que os portugueses estão
a fazer e o sentido das manifestações. Os portugueses não se conformam com a evolução
da crise.
É necessário que as ações políticas decorram
do diálogo com a realidade. As pessoas apelam a outra ética políticofinanceira,
exigem maior transparência, solidariedade e urbanidade, ou seja, respeito pelo valor da dignidade do ser
humano. Não é possível
continuar a fazer "ouvidos de mercador", a desvalorizar tais
exigências dos cidadãos.
Tenhamos audácia para romper com o
cinismo europeu que, em boa verdade, desvaloriza o impacto da crise para as
pessoas e que trata a crise por tu, fazendo-nos crer que é uma evolução natural
de uma sociedade que apostou demais na garantia dos direitos sociais. A crise foi
criada pelo sistema político-financeiro internacional, não era uma inevitabilidade.
As pessoas já perceberam isso e que para ela há saídas. Assim, não aceitam
resignar-se e, muito menos, carregar com a culpa da crise, nem em Portugal nem
nos outros países do sul da Europa.
É interessante fazermos um pequeno
exercício relativamente aos rendimentos dos portugueses. O salário médio ronda
os 700 euros. Segundo dados disponíveis, em 2011: 33.902
pensionistas recebiam até 200 euros; 17.835 pensionistas entre 200 e 300 euros,
e 40.084 pensionistas entre 300 e 500 euros. Perante estes dados, como é que têm vivido os pensionistas da
Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações? Provavelmente com muitas
dificuldades.
Com uma previsão de 16 por
centro de desemprego para o final de 2012, com o salário mínimos abaixo dos 500
euros e com uma classe média com salários até 1.500 euros líquidos, como é que os
portugueses vão responder a mais e mais austeridade? Depois dos cortes e
impostos não terem produzido o efeito esperado será que as pessoas acreditam
que vale a pena fazer mais sacrifícios?
Por tudo isso, os portugueses pedem
maior sentido de justiça. Só uma verdadeira TSU - transparência, solidariedade
e urbanidade - pode evitar convulsões sociais graves, produzir mudanças sustentáveis
e garantir que as gerações futuras se continuam a identificar como as herdeiras
de um Povo com uma história digna.
Sem comentários:
Enviar um comentário