Os efeitos da crise sobre a classe média
41.º aniversário do 25 Abril de
1974
A 25 de Abril de 2015 podemos dizer que a grande
novidade é o desaparecimento progressivo da classe média. O rápido processo de
ajustamento financeiro que nos foi imposto nos últimos 4 anos funcionou como um
terreno de areias movediças. Esta imagem está colada a Portugal, hoje.
Precisamente por isso, no ano em que se comemora
o 41.º aniversário do 25 de Abril de 74 a democracia política não se manifesta
na sua forma mais inclusiva. A classe
média, que podia ser expressão de uma democracia amplamente representativa, é
uma classe cansada e que, acima de tudo, está desmoralizada.
É habitual ouvirmos tratar os funcionários
públicos como a fonte de despesa do Estado, justificação para a procura ativa
da diminuição dos encargos com estes trabalhadores. No entanto, é interessante
percebermos que o aumento de 2,9% da função pública, no ano de 2009, terá tido
um impacto reduzido nas contas públicas, pouco mais de 0,3% do PIB.
Assim, perante esse simples retrato, será que se
justificou a opção de fazer diminuir a despesa do Estado pelo lado do corte dos
salários dos funcionários públicos? Provavelmente havia outras opções. Na
realidade, às vozes da oposição, somam-se a de pessoas como Pacheco Pereira,
que afirma que o Governo foi pelo caminho mais fácil.
Essa opção
ignorou que a classe média é o pilar estruturante da coesão social em
qualquer sociedade e do crescimento da economia. Aqui se incluem os
funcionários públicos, do terceiro setor ou das pequenas e médias empresas e os
seus empresários que, em Portugal, representam mais de 90% do setor
empresarial. Nos últimos tempos, este tecido social desfez-se e com ele a nossa
economia.
Nesta classe média estão incluídas pessoas
abrangidas por uma taxa de desemprego de 13,9, em 2014. Aquelas para quem o
sentimento de ser útil, ou mesmo indispensável, deixou de existir, mesmo que sejam
ajudadas ou continuem a ter habitação e a satisfazer as suas necessidades de
sobrevivência. E não vale a pena dizer que a alternativa é tornarem-se
empreendedores, porque é uma visão simplista da realidade.
A grande dependência dos salários, com a carga de
impostos diretos e indiretos que temos, não permite às famílias fazer
poupanças. Quando se vêem confrontadas com problemas inesperados ou mudanças,
como seja a entrada dos filhos na universidade, é o caos. Esta fase, então, é
especialmente crítica na vida das famílias e tem um impacto negativo no futuro
do próprio país porque representa um fator potencial de mobilidade social e de
crescimento.
Assim, a celebrar Abril deixo a força das
palavras de Vinícius de Morais, numa homenagem à classe média. Se a política
não é poesia, a poesia é fundamental para se enfrentar a dureza da realidade.
O operário em construção
"Era
ele que erguia casas
onde
antes só havia chão.
Como
um pássaro sem asas
Ele
subia com as casas
Que
lhe brotavam da mão"
(...)
in Jornal Diário do Sul, abril 2014
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