Criei este blog enquanto instrumento de aproximação às cidadãs e aos cidadãos. É um conceito simples que visa partilhar os percursos, o trabalho e a visão das coisas de uma mulher, cidadã, politicamente comprometida no exercício da sua primeira experiência parlamentar e conhecer as opiniões e sugestões de quem me contacta, por exemplo, as suas.

A José Nascimento e António Barbosa agradeço respectivamente, a fotografia e a música.

Gato escondido com o rabo de fora

No debate no Parlamento sobre o programa de Governo ficou clara a necessidade dos partidos políticos na oposição saírem do impasse político em que se encontram desde 27 de Setembro, altura em que o Partido Socialista ganhou as eleições de forma democrática. Este impasse decorre de não se conformarem com o facto do PS ter perdido a maioria absoluta mas ter mantido a maioria.

Num país democrático é fundamental que se interprete correctamente o sentido de voto dos cidadãos. A realidade é que quem ganha as eleições sem atropelos de ninguém, de forma justa, tem legitimidade para governar. E quem perde deve assumir a sua condição de partido da oposição e respeitar as regras democráticas. Esta é uma condição fundamental num país democrático que quer ir para a frente.

Definitivamente os partidos à direita e à esquerda do PS, têm de fazer o luto de não terem sido eles a ganhar as eleições legislativas e, de uma vez por todas, respeitarem o voto dos portugueses. Isto implica que cumpram o seu papel e respeitem as regras. Desde logo, que apresentem contributos para a boa execução das políticas públicas mas no respeito pelo programa de Governo, que aliás decorre do programa eleitoral do PS.

No Parlamento devem exercer com rigor o papel de escrutinadores das prioridades apresentadas pelo Governo: relançar a economia e promover o emprego; reforçar a competitividade, reduzir a dependência energética e o endividamento externo, valorizar as exportações, modernizar Portugal; e desenvolver as politicas sociais, qualificar os serviços públicos e reduzir as desigualdades.

A forma como a oposição está a tentar descredibilizar o Governo em início de funções, deixa à vista um antiquíssimo vício da nossa cidadania: para se chegar de um ponto a outro, escolhe-se um atalho em vez de seguir em linha recta. Ao invés do que acontece noutros países, e muito recentemente na Alemanha, em que o partido liberal FDP, na oposição, aceitou o convite do conservadores, do CDU/CSU da chanceler Angela Merkel, para fazer um acordo de coligação, aqui os partidos preferem exercer o seu direito de queixa permanente. É a velha questão da ética. Neste caso da maturidade da nossa cidadania política.

Numa sociedade onde ainda se dá mais valor ao parecer do que ao ser, a oposição para não dar parte fraca age como se lhe tivesse sido atribuída legitimidade para governar. O mais curioso é que nenhum dos partidos aceitou o convite do Governo para fazer uma coligação que lhe desse, esta sim, a oportunidade de negociar o programa de Governo. Mas seria expectável que assim fosse quando se arrogam o direito de criticarem tão duramente o seu programa.

Com o clima que a oposição está a criar ao Governo e o inverno à porta, é caso para recomendar à oposição: "Tirem-lhe a pele e façam um casaco". O único senão é que um país com os problemas estruturais como o nosso e com uma crise internacional com o impacto que esta teve, precisa de uma cidadania política com visão de futuro, responsável, no Governo e na oposição.


Como diria Mário Soares, Portugal não necessita de nenhum pessimismo doentio quanto ao futuro, antes pelo contrário, precisa de uma vitalidade política verdadeiramente excepcional. É isto que se espera de um país democrático, na rota do desenvolvido e da modernidade.

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