Um caso de humanismo e liberdade
A Irmã Carmen Centenera é uma daquelas pessoas de quem sempre vou ter saudade. É bom, quando, além do gosto pela companhia dos presentes, temos oportunidade de recordar com saudade muitas outras pessoas que preencheram a nossa vida.
Quando há 15 anos comecei a trabalhar na Associação "Chão dos Meninos", a Irmã Carmen dirigia o Lar Santa Helena que na época tinha a valência de internato para adolescentes em situação de risco. Recordo a forma como desenvolvia o seu trabalho e acompanhava cada uma das adolescentes, de forma firme e afectiva e, por isso, sempre foi uma referência para mim.
Numa altura em que as instituições ainda estavam muito fechadas sobre si próprias, o Lar Santa Helena era claramente diferente. Sempre me habituei a ouvir a Irmã Carmen falar com profundo respeito pela situação de vida de cada adolescente, nunca reconheci nas suas palavras laivos de preconceito ou criticas moralistas. A Irmã Carmen transmitia energia e ousava fazer as coisas de uma forma diferente do habitual.
A sua disponibilidade interior para ir ao encontro das adolescentes, para acolher as suas duras histórias de vida e respeitar o seu tempo para falar das coisas, não era comum. As suas práticas, desde a forma como o Lar estava organizado até às regras que existiam, revelam uma extraordinária capacidade de adaptação às exigências dos tempos. Só assim se compreende que em 1995, Évora tenha sido uma das primeiras cidades do País, a ter uma Casa Abrigo para mulheres vítimas de violência doméstica.
Entretanto, a Irmã Carmen partiu para o Brasil mas as Irmãs Adoradoras continuam o seu trabalho, com empenho e sentido de modernidade. Por tudo isto, foi com orgulho que ouvi recentemente a Irmã Pilar Casas, da mesma Congregação mas a trabalhar na Fundação Amarante, fazer uma intervenção denominada "Mulher e Libertação", em que dizia, sem meias palavras, que a violência contra as mulheres é uma questão de direitos humanos e de má prática de cidadania.
A jornada comemorativa do 15.º aniversário da intervenção desenvolvida, em Évora, pelas Irmãs Adoradoras, denominava-se "Estórias que fizeram História". Isto é o que acontece sempre que as pessoas acreditam que o futuro também depende de si. Numa época conturbada, em que parece não haver espaço para discursos positivos, é fundamental estarmos disponíveis para descobrir o que existe de bom entre nós, às vezes são coisas simples, e para darmos o nosso melhor.
1 comentário:
Ouvir palavras de reconhecimento pelo trabalho de outros é sempre aprazível e mostra carácter e crença nos seres humanos. Que chatice ser sempre tudo mau. Há escolhas, caminhos e políticas muito válidas, e ainda bem. Estou certa que a Irmã Carmem e todos quantos colaboraram e colaboram com o Lar de Santa Helena ficam muito gratos e agradecidos por estas palavras. Bem haja a "nossa deputada" e permito-me dizer-lhe isto porque lhe reconheço o fundamental para essa qualidade: a representação.
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