Criei este blog enquanto instrumento de aproximação às cidadãs e aos cidadãos. É um conceito simples que visa partilhar os percursos, o trabalho e a visão das coisas de uma mulher, cidadã, politicamente comprometida no exercício da sua primeira experiência parlamentar e conhecer as opiniões e sugestões de quem me contacta, por exemplo, as suas.

A José Nascimento e António Barbosa agradeço respectivamente, a fotografia e a música.

Portugal e a Europa perdidos nas encruzilhadas da mudança

No inicio dos anos 90, Jostein Gaarder escrevia: Kierkegaard ... a Europa está a caminho da bancarrota... 
Em finais de 2011 será que alguém sabe o caminho?





Quem cuida de Sofia


Oito mais quatro são doze, Sofia. Podemos ter a certeza disso. É um exemplo de verdades da razão, de que todos os filósofos desde Descartes falaram. Mas vamos incluí-las na nossa oração da noite? E vamos quebrar a cabeça com elas no leito da morte? Não, essas verdades podem ser «objetivas» e «universais», mas justamente por isso são indiferentes para a existência do indivíduo.

É dessa forma que Jostein Gaarder procura explicar a uma adolescente, Sofia, o que é verdadeiramente importante para a vida das pessoas, segundo o pensamento de Kierkegaard, filósofo do XIX. Autor do livro "O mundo de Sofia", publicado em 1991 na Noruega, Gaarder dá a conhecer de uma maneira acessível  a história da filosofia ocidental. Talvez fosse interessante dar a conhecer aquela e outras ideias aos tecnocratas e políticos que nos falam da verdade dos números.

Segundo o relatório da UNICEF, Portugal é o 2º País da OCDE com maior desigualdade no bem-estar das crianças e o país com maior taxa de pobreza infantil. No ano passado morreram cerca de 300 crianças vítimas de acidente ou violência. Estes são exemplos que mostram o que é verdadeiramente importante na vida, mas infelizmente só temos essa perceção quando os problemas nos batem à porta ou são mediatizados pela comunicação social a partir de uma situação concreta.

Segundo dados do Eurostat, pela primeira vez no ano passado o número de mortes na Europa superou o dos nascimentos. As projeções ditam que dentro de três anos, a população total europeia começará a declinar e que daqui a cinquenta anos, a população trabalhadora europeia diminua em cerca de cinquenta milhões de pessoas.
Na atualidade todas estas verdades que atingem pessoas concretas e famílias, que marcam  a realidade presente e o futuro de cada país e da Europa, parecem passar ao lado daquilo que são consideradas as questões magnas da governação europeia. Haja criatividade e coragem política para fazer as coisas de forma diferente, em vez de passarmos a vida a falar da necessidade de reformas estruturais e a tomar as medidas fáceis que o tempo dos mercados impõe.

Num quadro como aquele que apresentei, só o pensamento mágico  dos senhores do poder os pode levar a acreditar na cura dos problemas através do empobrecimento dos cidadãos. Será que alguém acredita que o nosso País e a Europa podem competir no mundo global se não for através da qualificação das pessoas e da modernização? É necessário fazer cair os muros mentais que forçam a manutenção do atual sistema económico e impedem a circulação de ideias renovadas.  

Jostein Gaarder utiliza uma imagem interessante para explicar a Sofia o pensamento do filosofo Kierkegaard que defendia que o importante é a existência do individuo:  Ele (Kierkegaard) fazia troça do tipo de professor hegeliano que vive num castelo de nuvens e, enquanto explica toda a realidade, se esquece, na sua distração do próprio nome e de que é um homem, simplesmente um homem. Esta imagem retrata bem a atitude dos que estão a gerir a crise, esquecem-se que na sociedade vivem pessoas, crianças que são presente e futuro.

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