Humanismo, Liberdade e o que aí vem...
A Alemanha não é a chanceler Angela Merkel e o povo alemão não é todo igual à Senhora Merkel. É evidente. No entanto, nos tempos que correm não é demais repeti-lo. A democracia europeia não pode continuar anestesiada pela melodia estridente dos que defendem que quem paga manda. Outros valores se levantam.
O ex-chanceler alemão Helmut Schmidt, do Partido Social Democrata (SPD), no passado domingo deu voz às criticas à política da direita conservadora, seguida pelo atual Governo de Angela Merkel, apelando a mais solidariedade da Alemanha para com os parceiros europeus e relembrou que a reconstrução do país após a II Guerra não teria sido possível sem o apoio destes. Não é aceitável que as gerações mais novas, apesar do seu empenho para a prosperidade da Alemanha e do seu contributo para o financiamento da União Europeia, se posicionem como se estivessem para além da história e do futuro da paz na Europa.
O economista Helmut Schmidt diz-se a favor da integração europeia e avisa que se a Alemanha insistir numa posição nacionalista, e em deixar cair os países da periferia, vai acabar por prejudicar os seus próprios interesses estratégicos e a estabilidade na Europa. Esta foi a posição que levou em tempos o reconhecido estadista Helmut Kohl a apostar no valor União Europeia, a que provavelmente se associaria o psicanalista Erich Fromm, nascido na Alemanhã, em 1900, que escreveu: o perigo do passado era que os homens se tornassem escravos. O perigo do futuro é que os homens se tornem autómatos.
Erich Fromm emigou para os EUA quando Hitler chegou ao poder. Humanista convicto, preocupava-o a forma acrítica como as pessoas exerciam os seus papéis na sociedade e como a liberdade material os isolava e lhes criava uma ilusão de poder, quando na prática acabavam por ficar reféns da hierarquia da dominação económica. Defendia que só através de uma ética social, assente na cooperação e na solidariedade, seria possível garantir a verdadeira liberdade, uma liberdade co-responsável, e uma sociedade equilibrada.
Cada uma dessas personalidades aponta para uma visão de sociedade muito distante de Angela Merkel. É pena que os seus discursos, apesar de serem também em alemão, não sejam inteligíveis pela Chanceler e por todos aqueles que sofrem da mesma falta de visão para a Europa. Só através do exercício generalizado da liberdade co-responsável proposta por Erich Fromm, vamos conseguir inverter o sentido do nosso futuro. Outros já provaram que é possível. Os tempos são de mobilização.
Por isso, não obstante o projeto de União Europeia se encontrar numa nebulosa e da ausência de políticas que balizem os limites dos valores humanistas do espaço europeu, temos de trabalhar para que se volte a colocar a Europa na rota do respeito pelos povos e pela Pessoa Humana.
Por agora fica a expectativa do eixo Franco-Alemão ter um ataque de sensibilidade e bom senso na próxima cimeira da União Europeia, no dia 9 de Dezembro. Afinal podem ter falta de visão, mas não são surdos ao ponto de não ouvir os apelos de milhões de europeus.
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