Os
Jovens Precisam de Sonhar
As árvores precisam de ser regadas para crescerem.
Assim,
os jovens precisam de sonhar. Longe das ilusões da infância, continuam a ter
necessidade de acreditar em coisas. O sonho é acima de tudo um sinal de
vitalidade, uma forma de darem sentido à vida presente e de se projetarem no
futuro. Por isso, é tão importante não lhes retirarmos a capacidade de sonhar.
A
sua atual participação na sociedade está intimamente associada a essa sua
capacidade e todos devíamos estar conscientes disto. Quando um jovem diz: nos dias de hoje já não se trata de ter
sonhos, mas de ter medo de sonhar, devia ser decretado o estado de
emergência. Quando a política esmaga o
sonho, os jovens começam a definhar, perdem-se num presente sofrido e no vazio
de um futuro incerto.
É
perturbador perceber que os jovens estão tão descrentes, ver a falta de brilho
no seu olhar, ouvi-los dizer que sentem
que ter filhos é um ato egoísta porque os tempos são incertos e o futuro não se
perspetiva melhor. Num país em que a taxa de natalidade é baixíssima,
talvez fosse interessante repensar estas questões com mais criatividade e
empenho do que é comum, em matéria de políticas para a infância e juventude.
Este
é um desafio para um Governo comprometido com as novas gerações, com ambição e
ousadia de governar para a sustentabilidade da sociedade, um governo
constituído por políticos com capacidade de sonhar e fazer os outros
acreditar. A crise atual é uma
oportunidade de refundar algumas coisas, a começar na forma passadista como se
olha para determinadas áreas das políticas públicas, nomeadamente nas áreas
sociais e particularmente, nessas matérias.
Nos tempos
que correm, seria interessante termos políticos com audácia e determinação para
criarem o Ministério da Infância e Juventude ou, partindo do que já existe,
colocar a Comissão Nacional de Proteção
das Crianças e Jovens em Risco na dependência direta do Primeiro Ministro,
com competências mais abrangentes, reforçadas e transversais aos diversos Ministérios
e Secretarias de Estado.
As
capacidades criativas, de inovação ou de empreendedorismo de um jovem de 13 ou
de 30 anos, estão associadas à sua trajetória familiar e também àquilo que as
políticas públicas e o meio forem capazes de
estimular em cada fase da vida. A vitalidade de um país pode perder-se
pela forma negligente como o Estado
cuida das suas crianças e jovens.
Os
responsáveis pela governação deviam levar estas questões a sério, tratá-las
como assunto de Estado porque as crianças e os jovens estão para os países como
as sementes estão para as árvores. E em Portugal, a questão está a ficar
particularmente preocupante. Os jovens sentem que os ventos que sopram abalam
as suas frágeis raízes e levam as sementas do sonho.
A
esperança dos jovens, exige uma política orientada por uma forte ética
cognitiva e afetiva. Este é outro dos
grandes desafios dos tempos que correm.
Sonhos
Semente
O
espírito da árvore que será depois.
Cada
semente sabe como
transformar-se
em árvore, caindo em terra fértil,
absorvendo
os sucos que a alimentam,
expandido
as ramas e a folhagem,
enchendo-se
de flores e de frutos,
para
poderem dar o que têm que dar.
(...)
E tantas são as sementes
como
são os sonhos secretos (...)
Jorge Bucay
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