Artigo 63.º
Solidariedade
Social
Se
as IPSS voassem...
O
padrão de voo de aves como os gansos é uma boa imagem para representar a forma
como as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) se posicionam.
Descobriu-se que à
medida que cada ave bate as asas estabelece uma elevação para a ave que
imediatamente a segue. Ao voar numa formação em V o bando, no seu conjunto,
atinge uma amplitude de voo na ordem de mais de setenta por cento do que se
voassem sozinhas.
Esse
padrão de voo provavelmente inspirou o legislador que redigiu o artigo 63.º da
Constituição da República, ao prever que os objetivos de solidariedade social
do Estado sejam executados por IPSS e outras entidades de reconhecido interesse
público sem caráter lucrativo. Estas entidades exercem, assim, uma das competências
administrativas do Governo: tomar todas as providências necessárias à promoção
do desenvolvimento económico social e à satisfação das necessidades coletivas,
tal como plasmado no artigo 199.º da Constituição.
Considerando
que no seu artigo 1.º, a Constituição entende Portugal como uma República soberana,
baseada na dignidade da pessoa humana e empenhada na construção de uma
sociedade livre, justa e solidária, as IPSS são uma das fundações do Estado de
Direito Democrático. O que é notável. Estas entidades prestam uma forte oferta
pública de serviços sociais, de saúde e educativos, contribuindo para a
edificação do sistema de proteção social.
Por
tudo isso, os tempos de crise determinam que o Estado estabeleça um diálogo próximo
e renovado com essas organizações, dirigidas por cidadãos voluntários e em que
colaboram tantas outras pessoas, onde os próprios profissionais exercem a sua
atividade com espírito de entrega. Estas Instituições, expressão da democracia,
de uma sociedade civil organizada e mobilizada para participar na edificação
das suas comunidades e para a coesão e bem-estar social, são aliadas decisivas
do Estado.
Com o desemprego a contribuir para fortalecer
a armadilha da pobreza, as IPSS são um fator chave para amortecer a queda das
sociedades, em estreita parceria com a Segurança Social. A
pressão social sobre estas entidades é cada vez maior, o que vem dificultar a
sua capacidade de ação. Desde há muito que a comparticipação financeira do
Estado fica muito aquém do que seria adequado para o exercício das suas funções.
Por isso, as IPSS sempre foram geridas com muita criatividade, engenho e muito
esforço.
Da
mesma forma que proponho o Nobel da Paz 2012 para o Povo Português pela sua
atitude perante as dificuldades que atravessa, também proponho uma Menção
Honrosa pra as IPSS pelo trabalho que desenvolvem silenciosamente na efetivação
do sistema público de proteção social, exercendo um importante papel de
contenção social.
Por
tudo isso é tempo de…
Revisitar
a Constituição da Republica Portuguesa.
Relembrar
que as IPSS compartilham os seus objetivos com o setor público, visando
satisfazer as necessidades dos cidadãos.
Dar
visibilidade a outra parte da economia, a economia social, que ao longo dos
tempos tem procurado sempre adaptar-se e dar resposta aos problemas sociais e
realidades locais.
É
um tempo de grande respeito entre parceiros que são indispensáveis para Portugal
atravessar a ponte para a outra margem.
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