Contrassensos
das eleições autárquicas
Os
resultados das eleições autárquicas apresentam um contrassenso difícil de se
perceber: a abstenção foi de 47,4 e em Oeiras ganhou um candidato que está
preso. Se por um lado, as pessoas não votam por estarem descrentes dos
políticos e das políticas, exigindo mais ética e eficácia na governação, por
outro lado, apoiam um político que não terá olhado a meios e está preso por fraude
fiscal e branqueamento de capitais
Em
eleições autárquicas a abstenção registou as seguintes taxas: 35,4% em 1976;
26,2% em 1979; 28,6% em 1982; 36,1% em 1985; 39,1% em 1989; 36,6 % em 1993;
39,9% em 1997 e 2001; 39% em 2005; 41% em 2009 e 47,4% em 2013, segundo a PORDATA
(Base de dados Portugal contemporâneo). Esta evolução pode ter
múltiplas leituras mas apenas sublinho duas coisas objetivas. Primeiro: devemos
refletir na distância a que a política está das pessoas, elas não se
interessam, não se sentem implicadas e deixaram de acreditar.
A
política e os partidos ao não motivarem os jovens e ao não são serem um fator de esperança para novos e velhos,
criam um vazio na democracia. Esta questão é muito séria e devia ser motivo de
grande preocupação dos Estados democráticas. Quando a liberdade de voto é
desprezada pelo povo começam a ruir os pilares da Democracia.
Segundo:
por outro lado, em democracia o voto é simultaneamente um direito e um dever de
participação. Será que não devia ser obrigatório e existirem consequências de
não se votar? As pessoas podem manifestar o seu descontentamento através do voto
em branco, mas têm obrigação de se pronunciar. Não votar significa demitir-se, transferir
a responsabilidade para os outros e, na prática, manter-se na zona de conforto.
A
outra parte do contrassenso destas eleições é o apoio a Isaltino Morais na
candidatura à Câmara de Oeiras. Afinal o mesmo povo que se diz desacreditado da
política e dos políticos é o mesmo que apoia um ex-candidato preso por dois
anos. Alguém consegue explicar este fenómeno? Com o nível de exigência que
existe em relação aos políticos, seria expetável que as pessoas repudiassem
este tipo de candidato, mas não foi isso que aconteceu. Os apoiantes de Paulo
Vistas, eleito presidente da câmara de Oeiras pelo movimento Isaltino Oeiras
Mais À Frente, festejaram a vitória que é também a de Isaltino Morais.
A
democracia é robusta, mas até quando terá elasticidade para suportar estes e
outros contrassensos? Felizmente vivemos em democracia, mas temos de cuidar
mais do nosso futuro para que esta energia boa, a democracia, não se esgote um
dia.
Por
último, deixo um abraço solidário a todos os candidatos e eleitos do PS que
saiu claramente vitorioso nestas eleições e cumprimento democraticamente todos
os eleitos.
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