A Constituição é um farol em dias de tempestade
Assim, vale a pena pararmos por
uns segundos para revisitarmos a nossa Constituição que, salvo melhor imagem,
neste preciso momento está a funcionar
para os portugueses como um farol para os navios em dias de grande tempestade.
Sem prejuízo da competente análise dos constitucionalistas, todos temos o dever
de ter opinião sobre a Lei que orienta a governação, pelo que, vou partilhar a
minha tese.
Antes quero fazer uma confissão:
tenho um apresso especial pela mãe de todas as leis, a nossa Constituição da
República Portuguesa, e vou explicar as razões com recurso a 3 artigos.
Primeira razão, é humanista.
Lê-se no Art. 1.º (República
Portuguesa): "Portugal é uma
República Soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular
e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária". Vamos
transformar este artigo numa coisa diferente? Não. Estas palavras expressam uma
boa visão para Portugal.
Segunda razão, defende os
direitos sociais, nomeadamente a educação para todos.
Art. 74.º (Ensino) "Todos Têm direito ao ensino com
garantia do direito à igualdade de oportunidades de acesso e êxito
escolar". Esta formulação assenta na equidade das crianças e dos
jovens à educação, o mesmo será dizer que respeita as diferenças e garante a
igualdade de oportunidades. Sabemos que se este direito não tivesse inscrito na
Constituição, o ensino público estaria muito pior do que está e cada vez nos
afastávamos mais dos outros países. Num país onde menos de 20% da população tem
o ensino superior, é fundamental para o nosso desenvolvimento salvarmos o direito
a uma educação pública de qualidade.
Terceira razão, tem uma ética
solidária.
No Art. 81.º (incumbências
prioritárias do Estado): "Promover o
aumento do bem-estar social e económico e da qualidade de vida das pessoas, em
especial dos mais desfavorecidos, no quadro de uma estratégia de
desenvolvimento sustentável (...)", artigo que se insere na parte da organização
económica e que aponta para uma governação responsável e equilibrada que não
deixe os cidadãos mais vulneráveis para trás.
Esta Constituição assume, assim,
o papel de provedoria de um Povo que, não fora esta barreira, e provavelmente
já tinha sido triturado por uma agenda neoliberal. Para além das tentativas
internacionais, os sucessivos chumbos do Tribunal Constitucional a propostas do
Governo, são disso um exemplo.
Na verdade a direita há muito que
defende que se retire a carga ideológica da Constituição, mas para tal
acontecer deve apresentar a sua proposta num programa eleitoral porque, até
prova em contrário, apenas pretende criar condições para terminar com o Estado
Social e abrir espaço para uma governação neoliberal pura. Por isso, é
compreensível a reserva daqueles, a começar no Partido Socialista, que se opõem
a uma revisão constitucional no momento histórico que Portugal atravessa.
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