Pessoas
Sem Sombra
Vários
testemunhos de vítimas de pobreza ou de situações graves de saúde, crianças e
adultos, mencionam os efeitos devastadores que essas situações têm nas suas
vidas. Ora, se aparentemente há estruturas de apoio que permitem às pessoas
serem ajudadas, a verdade é que faltam meios para mudar essas vidas. Assistentes
sociais, enfermeiros, médicos e psicólogos, ouvem todos os dias os testemunhos
dessas pessoas.
As
pessoas com deficiência, com problemas de saúde mental ou com outros problemas
de saúde, e as suas famílias, as pessoas vítimas de violência, as pessoas
desempregadas de longa duração, as pessoas com baixíssimos rendimentos, as
pessoas de todas as idades, conhecem bem os dramas de precisar de ajuda e não
haver resposta para o seu problema.
Obrigadas
a crescer em famílias violentas ou negligentes, muitas crianças e jovens têm de
ser acolhidas em instituições que fazem o que podem, e não podem, para inverter
percursos de solidão e desapego. São vidas concretas que passam silenciosamente
pela sociedade.
Este
ano a UNICEF apresentou um relatório onde dava conta que 13 milhões de crianças,
concretas, que vivem na União Europeia não têm acesso a elementos básicos
necessários para o seu desenvolvimento. Paralelamente
refere que 30 milhões de crianças vivem na pobreza em 35 países economicamente
desenvolvidos. Só em Portugal, a
taxa de pobreza infantil, em 2011, situava-se nos 22,4%, segundo dados do
relatório "O impacto da crise europeia", publicado pela Cáritas.
Evidentemente,
nem todos os filhos da pobreza, nem todas as pessoas com problemas graves,
resultam em vidas sem esperança ou em dramas humanos, mas essas situações
enegrecem os seus quotidianos e muitas, a maior parte, acaba por ficar pelo
caminho das suas próprias vidas. Estas não são as pessoas de sucesso, aquelas
que servem de bandeira para justificar as opções políticas que deixam milhares
de vidas para trás, no mundo, na Europa
e em Portugal. Estas são vidas colocadas à margem das regras de políticas
neoliberais, marcadas pela lei do mais forte e pela centralização da riqueza.
Não
proteger as pessoas é uma opção política desumana, é um dos erros mais graves
que uma sociedade democrática pode cometer. Para cada pessoa, na objetividade
da sua vida, vivida num tempo único e irrepetível, é tempo de acabar com a
impunidade relativamente à negligência dos governos neoliberais para com a vida
das pessoas.
É
tempo de fazer com que as pessoas recuperem o direito à sua própria sombra, tal
é a fragilidade das suas vidas, vidas invisíveis aos olhos dos seus (des)
governos.
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