Criei este blog enquanto instrumento de aproximação às cidadãs e aos cidadãos. É um conceito simples que visa partilhar os percursos, o trabalho e a visão das coisas de uma mulher, cidadã, politicamente comprometida no exercício da sua primeira experiência parlamentar e conhecer as opiniões e sugestões de quem me contacta, por exemplo, as suas.

A José Nascimento e António Barbosa agradeço respectivamente, a fotografia e a música.

Pessoas sem sombra...


Pessoas Sem Sombra

 
Vários testemunhos de vítimas de pobreza ou de situações graves de saúde, crianças e adultos, mencionam os efeitos devastadores que essas situações têm nas suas vidas. Ora, se aparentemente há estruturas de apoio que permitem às pessoas serem ajudadas, a verdade é que faltam meios para mudar essas vidas. Assistentes sociais, enfermeiros, médicos e psicólogos, ouvem todos os dias os testemunhos dessas pessoas. 

As pessoas com deficiência, com problemas de saúde mental ou com outros problemas de saúde, e as suas famílias, as pessoas vítimas de violência, as pessoas desempregadas de longa duração, as pessoas com baixíssimos rendimentos, as pessoas de todas as idades, conhecem bem os dramas de precisar de ajuda e não haver resposta para o seu problema.

Obrigadas a crescer em famílias violentas ou negligentes, muitas crianças e jovens têm de ser acolhidas em instituições que fazem o que podem, e não podem, para inverter percursos de solidão e desapego. São vidas concretas que passam silenciosamente pela sociedade.

Este ano a UNICEF apresentou um relatório onde dava conta que 13 milhões de crianças, concretas, que vivem na União Europeia não têm acesso a elementos básicos necessários para o seu desenvolvimento. Paralelamente refere que 30 milhões de crianças vivem na pobreza em 35 países economicamente desenvolvidos.  Só em Portugal, a taxa de pobreza infantil, em 2011, situava-se nos 22,4%, segundo dados do relatório "O impacto da crise europeia", publicado pela Cáritas.

 Evidentemente, nem todos os filhos da pobreza, nem todas as pessoas com problemas graves, resultam em vidas sem esperança ou em dramas humanos, mas essas situações enegrecem os seus quotidianos e muitas, a maior parte, acaba por ficar pelo caminho das suas próprias vidas. Estas não são as pessoas de sucesso, aquelas que servem de bandeira para justificar as opções políticas que deixam milhares de  vidas para trás, no mundo, na Europa e em Portugal. Estas são vidas colocadas à margem das regras de políticas neoliberais, marcadas pela lei do mais forte e pela centralização da riqueza.

Não proteger as pessoas é uma opção política desumana, é um dos erros mais graves que uma sociedade democrática pode cometer. Para cada pessoa, na objetividade da sua vida, vivida num tempo único e irrepetível, é tempo de acabar com a impunidade relativamente à negligência dos governos neoliberais para com a vida das pessoas.

É tempo de fazer com que as pessoas recuperem o direito à sua própria sombra, tal é a fragilidade das suas vidas, vidas invisíveis aos olhos dos seus (des) governos.

 

 

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