Criei este blog enquanto instrumento de aproximação às cidadãs e aos cidadãos. É um conceito simples que visa partilhar os percursos, o trabalho e a visão das coisas de uma mulher, cidadã, politicamente comprometida no exercício da sua primeira experiência parlamentar e conhecer as opiniões e sugestões de quem me contacta, por exemplo, as suas.

A José Nascimento e António Barbosa agradeço respectivamente, a fotografia e a música.

Sermão de Santo António aos Peixes


Os Sobreviventes


O elogio dos Sobreviventes dos tempos atuais é uma forma de começarmos com força redobrada o Ano de 2014. Os sobreviventes que somos cada um de nós, na nossa vulnerabilidade perante a vida, e os que continuam a viver em cada um de nós apesar de terem partido. Esta condição de sobrevivente é também a expressão da nossa força e uma oportunidade de nos determinarmos a ir mais longe em cada dia na construção de uma sociedade mais justa. Todavia, na realidade umas pessoas são mais sobreviventes que outras.

As Pessoas. Na certeza que a vida é única e irrepetível, deve ser celebrada em cada dia como um valor absoluto. Assim, as políticas públicas para serem dignas do povo a que se destinam, têm de colocar os direitos humanos no seu epicentro. Na certeza que estão ao serviço das pessoas e que cada pessoa representa um valor que não pode ser negligenciado.

É por isso que devemos ter vergonha cada vez que uma pessoa não sobrevive por falta de assistência. Aqui temos o dever de fazer mais um apelo para que o sistema de funcionamento das VMER (Viatura Médica de Emergência e Reanimação) que operam no Serviço Nacional de Saúde, seja revisto com a seriedade exigida a todos os meios que salvam pessoas.

É isto que as pessoas esperam. Os portugueses não desistem do serviço público e acreditam que há condições para ser eficaz e eficiente. Assim, seja condignamente valorizado.

O Povo. A condição de sobrevivente do Povo Português está hoje bem expressa no "Sermão de Santo António aos Peixes" (séc. XVII), proferido pelo Padre António Vieira contra os colonos e em defesa dos índios no Brasil:

             "(...) ouvi também agora as vossas repreensões.  Servir-vos-ão de confusão, já que não seja de emenda. a primeira coisa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, basta um grande para muitos pequenos, mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande".

A Troika, ou outro peixe grande, não deixará de rondar este cardume de 10 milhões de peixes miúdos, enquanto neste oceano existirem euros para cobrar a juros elevadíssimos.

No ano em que Portugal deseja regressar do Brasil com um título de campeão mundial de futebol, seria excelente que esta utopia se concretizasse para aumentar a nossa autoestima e, muito importante, que se cumprisse a utopia de libertar este povo de uma estratégia de empobrecimento progressivo, materializada na vida objetiva de cada pessoa e das famílias. 

Porque o valor "Vida" assim o exige, vamos acreditar que 2014 será um ano de viragem, vamos ser positivos. 

 

 

Sem comentários: