Criei este blog enquanto instrumento de aproximação às cidadãs e aos cidadãos. É um conceito simples que visa partilhar os percursos, o trabalho e a visão das coisas de uma mulher, cidadã, politicamente comprometida no exercício da sua primeira experiência parlamentar e conhecer as opiniões e sugestões de quem me contacta, por exemplo, as suas.

A José Nascimento e António Barbosa agradeço respectivamente, a fotografia e a música.

Praxes. Para quê?


Três séculos de retrocesso

 

"Hey por bem e mando que todo e qualquer estudante que por obra ou palavra ofender a outro com o pretexto de novato, ainda que seja levemente, lhe sejam riscados os cursos."

 

Estas palavras foram proferidas, em 1727, por D. João V, na sequência da morte de um aluno da Universidade. Esta referência ajuda-nos a refrescar a memória sobre práticas violentas que desde sempre estiverem presentes em algumas praxes.

O exagero, a brutalidade, a violência e os crimes não são paradigmáticos das praxes. Os comportamentos ilícitos, os consumos impróprios, os erros fatídicos acontecem em qualquer setor das comunidades. No entanto, há ambientes mais propícios a isso que outros. 

Se tivermos curiosidade em conhecer a origem das praxes e as vicissitudes a que estiveram associadas ao longo da nossa história, facilmente percebemos que não são propriamente um hino à boa conduta na receção e integração dos alunos. Infelizmente foi preciso acontecer a tragédia do Meco para inscrever este assunto na agenda da sociedade.

É certo que as universidades não têm qualquer direito a impor normas de conduta aos estudantes, excetuando os comportamentos dentro do campus. No entanto, a universidade é expressão de uma comunidade educativa que tem o dever de tomar posição sobre assuntos que têm origem na cultura da universidade. Na minha altura recordo-me de ter saído da sala assim que me apercebi que a praxe ia ter início, mas muitas colegas acabaram por ir descalças para casa, o que em Lisboa não é propiamente simpático.

As práticas de certas praxes assemelham-se a "bullying" exercido nas universidades. Aliás, é curioso que "bully" signifique valentão e que a praxe tenha por lema: "Dura Praxis, Sed praxis", ou seja, "A praxe é dura, mas é a praxe". As praxes marcadas pela humilhação, tal como o bullying, são agressões intencionais, verbais ou físicas, exercidas por alunos contra colegas. Talvez seja mais difícil de enquadrar o caracter repetitivo associado ao bullying, mas tudo depende do que se entender por ação repetida!

Face às situações que têm vindo a público, é caso para dizer que precisamos de um programa de prevenção de riscos das praxes. Há pessoas com boas intenções, o problema é que o poder simbólico associado aos rituais das praxes é propício a que certas personalidades se revelem no pior do ser humano.

As praxis académicas são comportamentos de grupo e com frequência  são irreverentes para o status quo, até aqui não há problema. Não se trata de moralizar comportamentos, mas de exigir que decorram no respeito pela segurança e integridade dos alunos.

Apesar da adesão às praxes ser livre, o clima que as envolve nem sempre permite aos alunos dizerem "Não". Por tudo isto, associo-me a todos os que defendem que é tempo de rever as dinâmicas das praxes e de construir uma cultura edificante da vida académica, onde prevaleça o espírito saudável de coesão e de entreajuda entre os alunos.

 

 

 

 

 

 

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