Um Arco-íris sem cor
Na
rua, encontrei uma pessoa que me disse "Então amanhã já é segunda-feira", tendo depois acrescentado: "É segunda para aqueles que vão trabalhar
porque eu fui apanhado no despedimento coletivo do banco, com 30 anos de casa e
55 anos de idade, vou fazer o quê?". Para este homem, com filhos a
estudar, ver-se sem emprego nesta fase da vida é sinónimo de nuvens negras no
horizonte. Para ele o arco-íris ficou sem cor.
Assim,
só o facto de 2015 ser um ano de legislativas justifica que, na sua mensagem de
final de ano, o Primeiro-Ministro (PM) tenha dito ao país que "os portugueses não terão a acumulação de
nuvens negras no horizonte" e que tenha afirmado: "temos o futuro aberto diante de nós".
No entanto, o PM falhou na previsão do estado do tempo.
O
ano iniciou com mortes nas urgências hospitalares, por alegada falta de
assistência, com mais de 700 alunos sem aulas, devido à falta de financiamento
público aos colégios para crianças com necessidades educativas especiais, e sem
perspetivas futuras de emprego para aquele ex-bancário e para tantas outras
pessoas. E já para não falar nas famílias que vivem da solidariedade de amigos
e conhecidos.
No
fim de tudo, fica a pergunta: Como é que essas pessoas são invisíveis aos olhos
dos nossos governantes?. A verdade é que não se perspetiva que venham a sentir
melhorias nas suas condições de vida, algumas dessas pessoas já nem estão
presentes entre nós. 2015 vai ser um ano duro. Tudo isto é absurdo. Para as
nossas sociedades é fundamental tratar das pessoas e aprofundar a coesão
social.
Telegraficamente,
mais duas notas:
1.
Uma pergunta: Que Estado queremos? Temos de decidir se optamos por um Estado orientado
por valores que estão ao serviço de uma minoria de favorecidos ou da maioria da
população. A minha resposta é que queremos um Estado que aprofunde o modelo
social europeu, sustentado no respeito pelos direitos humanos, na justiça
social e na coesão social. É este o caminho para sociedades mais livres e para
a paz.
2. A
importância do Estado Social para a Europa não deve ser subestimada, em
circunstância alguma. O chocante atentado terrorista em Paris, perpetrado por jovens de nacionalidade francesa, não nos
deve fazer avançar para posições extremistas que reduzam direitos, liberdades e
garantias e acabem por delapidar o modelo social europeu.
Termino
com palavras de solidariedade para com as vítimas do atentado ao jornal francês Charlie Hebdo e pela defesa da liberdade de
expressão: Je suis Charlie.
in Jornal Diário do Sul, janeiro 2015
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