A sul de Lisboa
Um simples exemplo ilustra a
diferença entre termos, ou não, um olhar focado na região Alentejo: a
existência de comunicação social local e regional e, neste caso a publicação do
jornal "Diário do Sul" que a 25 de fevereiro comemora o seu 46.º
aniversário. Esta data é, mais uma vez, uma oportunidade de colocar o tema da
regionalização na agenda.
A questão que se coloca é
saber se a melhor opção para o desenvolvimento de Portugal e da região Alentejo,
a região que nos interessa particularmente, é o modelo que temos tido de
territorialização de políticas públicas (decididas por um governo central) e de
políticas ascendentes de base municipal. Que resultados temos tido? Se estivesse
a ser eficaz talvez não existissem profundas assimetrias regionais entre o
litoral do país e o seu interior, em relação à situação demográfica, económica,
educacional, social e também da comunicação social. Nem o reconhecido
investimento dos autarcas no desenvolvimento dos seus concelhos tem sido capaz
de inverter esta situação.
Desde os anos 80 que os
quadros comunitários de apoio estão associados à territorialização das
políticas públicas e à consequente definição e implementação de programas e
projetos, com impacto na região. No entanto, há uma questão de fundo: qual é capacidade
de decisão das instituições regionais, tanto na negociação com Bruxelas, como
no desenho dos diversos programas? Uma coisa é os atores locais serem ouvidos sobre
o planeamento regional e outra coisa é terem capacidade de decisão nos momentos
chave.
É disto que precisamos: que
a participação seja acompanhada do poder de decisão. Sabemos que o
desenvolvimento de um território é complexo, que há diversos fatores, exógenos
e endógenos, que o condicionam, mas também sabemos onde o modelo de política
regional existente tem levado o próprio país.
"Por
outras palavras, há entre as diversas zonas do país consideráveis diferenças do
ponto de vista do desenvolvimento económico e social (...). A crescente
consciência dos visíveis desequilíbrios entre as diversas partes do território
nacional levou, a partir do início da década de 60, à adoção de medidas destinadas
a contribuir para a sua atenuação", Lê-se no Livro Branco sobre Regionalização publicado
em 1980. E hoje, volvidos 25 anos, como seria a introdução de um Livro Branco
sobre o tema?
Ainda não será tempo de
mudar? Que se dê o primeiro passo. Através da regionalização administrativa
(descentralização de poderes de decisão pertencentes aos órgãos do Estado para
instituições regionais, sem recurso ao governo central) ou da regionalização
política (criação de verdadeiras instituições regionais autónomas, com
legitimidade democrática, eleitas pelos cidadãos da região), o importante é
começar.
in Jornal Diário do Sul, fevereiro 2015
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