Criei este blog enquanto instrumento de aproximação às cidadãs e aos cidadãos. É um conceito simples que visa partilhar os percursos, o trabalho e a visão das coisas de uma mulher, cidadã, politicamente comprometida no exercício da sua primeira experiência parlamentar e conhecer as opiniões e sugestões de quem me contacta, por exemplo, as suas.

A José Nascimento e António Barbosa agradeço respectivamente, a fotografia e a música.

Classe média, a âncora do desenvolvimento sustentável

Sensibilidade e Bom Senso
 O que está em causa nas actuais políticas não é um projecto de governo, é um projecto de sociedade.
As pessoas têm vivido acima das suas possibilidades? É possível. Há pelos menos três boas razões para isso: i) Em Portugal os salários são baixos e o custo de vida cada vez mais caro; ii) Os bancos estimularam um ambiente de confiança no recurso ao crédito; iii) Num país da União Europeia, do chamado mundo desenvolvido, a expectativa de regressão do nível de vida era baixíssimo, para não dizer impossível. Muitas foram as pessoas que fizeram contas e com base na sua condição económica contraíram empréstimos para melhorar a sua vida.
Segundo a Pordata, a base de dados sobre Portugal contemporâneo da Fundação Manuel dos Santos, na actividade económica (administração pública e sector privado) o ganho médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem, era de total 867,5 euros, em 2009, euros e de 149,9 euros, 1985. Por um lado, estes valores permitem ver a evolução do País. Por outro lado, não nos entusiasmam em relação ao estado actual.
A classe média é a âncora do desenvolvimento sustentável de uma sociedade, ao serem abaladas as suas fundações as desigualdades sociais acentuam-se. Existe um limiar em que as condições de vida sofrem uma degradação qualitativa objectiva e esse limiar emerge de  situações da vida real, não de considerações políticas ou administrativas. A falência da classe média precipita o descalabro da coesão social e da sustentabilidade da segurança social.
Em Portugal, o limiar da pobreza são 400 euros, mas não se mede apenas pela falta de recursos económicos, mas também pelo acesso à educação, à saúde, pela participação na sociedade, etc. No fundo, uma determinada desvantagem está relacionada com outra. Na actual conjuntura socioeconómica, é fácil que a degradação da classe média se venha a traduzir num aumento da pobreza relativa, ou seja, na falta de recursos para obter as condições de uma vida digna, de acordo com os padrões da nossa sociedade (portuguesa, europeia), num mundo desenvolvido.  
 
De igual modo, existe o perigo de agravamento dos que hoje já vivem numa situação de pobreza absoluta, de não satisfação das necessidades humanas básicas e do aumento da fome, das pessoas sem-abrigo, etc.  Aqui entram todas as pessoas que vivem abaixo dos 400 euros (limiar da pobreza), sendo grande o risco de retrocesso dos que estão ligeiramente acima e que hoje recebem  485 euros de Salário Mínimo Nacional.

Para relembrar o quanto é frágil a nossa sociedade, vale a pena registar que em 1981, era de 44,6 para os trabalhadores agrícolas e  de 53,4 euros o Salário Mínimo Geral, e 334,2 euros, em 2001.  A evolução parece significativa, mas o SMN continua muito abaixo de outros países europeus. Talvez seja oportuno impor um teto salarial  como medida de austeridade, é uma questão de equidade, não de demagogia.


 As opções políticas têm de ser vistas e revistas. É fundamental garantir que a edificação da sociedade portuguesa não desmorona. E isso exige sensibilidade humana e bom senso político.

Sem comentários: