O Coelho de Alice
"Credo! Credo! Vou chegar
atrasadíssimo!", é a primeira frase do coelho n’As aventuras de Alice no País das Maravilhas e é também o
pensamento que, durante este ano letivo, tem acompanhado muitos pais e mães,
trabalhadores na função pública, que se esforçam por conciliar a vida
profissional e a vida familiar, com o aumento para 40 horas semanais.
Esta medida, adotada pelo Governo
para poupar nas horas extraordinárias e reduzir as contratações, acabou por ter
um impacto negativo na gestão das famílias dos cuidados aos filhos. Este problema
atinge homens e mulheres, mas, no nosso país, é particularmente sensível para
as mulheres. E convém não esquecer as dificuldade sentidas pelas famílias
monoparentais.
Com a rutura provocada pelo 25 de Abril
de 74, o processo de modernização da sociedade portuguesa foi muito acelerado e
provocou mudanças que noutros países levaram o dobro do tempo, nomeadamente com
a entrada da mulher no mercado de trabalho e com a promoção do valor da
igualdade entre homens e mulheres.
No entanto, apesar do modelo de homem
provedor e esposa doméstica ter sido abandonado e se venha a observar um
acréscimo da participação masculina, grande parte das obrigações domésticas e
para com os filhos ainda recaem sobre as mulheres.
Assim, facilmente se percebe o
impacto que o aumento do número de horas de trabalho tem na vida de muitas
famílias com filhos. Para complicar as coisas, há notícia de alguns serviços estarem
a dificultar os horários contínuos para quem tem filhos com menos de 12 anos,
uma possibilidade prevista na Lei, e que facilitaria a vida a alguns pais. O
que é mais estranho é que todas esta situação contraria a tendência da política de família seguida
pelo Governo anterior numa área em que não faz qualquer sentido haver
retrocessos.
É importante fazermos um exercício de
memória e termos presente que uma das apostas na área da política de famílias
foi o reforço das medidas de conciliação entre a vida profissional e a vida
familiar. Como? Por exemplo, com a
expansão dos serviços e equipamentos de apoio às famílias, nomeadamente das
creches, com o prolongamento dos horários de estabelecimento de ensino
pré-escolar e primeiro ciclo do ensino básico, com o aumento de 10 para 12 anos
na idade dos filhos no que se refere ao direito dos trabalhadores a 30 dias de
faltas por ano para prestar assistência a um filho doente, e com o aumento de 15 dias de faltas por ano para
assistência a filho com 12 ou mais anos de idade.
Em Portugal, num tempo de descida
acentuada da natalidade, o esforço dos Governos deve ser de aposta inequívoca
nas medidas de apoio à família e, desde logo, no domínio da conciliação da vida
profissional com a vida familiar. Por isso, termino como comecei, com as
palavras da história de Alice: "A única forma de chegar ao impossível,
é acreditar que é possível". Vamos ter esperança no futuro.
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