Criei este blog enquanto instrumento de aproximação às cidadãs e aos cidadãos. É um conceito simples que visa partilhar os percursos, o trabalho e a visão das coisas de uma mulher, cidadã, politicamente comprometida no exercício da sua primeira experiência parlamentar e conhecer as opiniões e sugestões de quem me contacta, por exemplo, as suas.

A José Nascimento e António Barbosa agradeço respectivamente, a fotografia e a música.

41.º Aniversário do 25 Abril

Os efeitos da crise sobre a classe média

                                                
                     41.º aniversário do 25 Abril de 1974

A 25 de Abril de 2015 podemos dizer que a grande novidade é o desaparecimento progressivo da classe média. O rápido processo de ajustamento financeiro que nos foi imposto nos últimos 4 anos funcionou como um terreno de areias movediças. Esta imagem está colada a Portugal,  hoje. 
Precisamente por isso, no ano em que se comemora o 41.º aniversário do 25 de Abril de 74 a democracia política não se manifesta na sua forma mais inclusiva. A  classe média, que podia ser expressão de uma democracia amplamente representativa, é uma classe cansada e que, acima de tudo, está desmoralizada.
É habitual ouvirmos tratar os funcionários públicos como a fonte de despesa do Estado, justificação para a procura ativa da diminuição dos encargos com estes trabalhadores. No entanto, é interessante percebermos que o aumento de 2,9% da função pública, no ano de 2009, terá tido um impacto reduzido nas contas públicas, pouco mais de 0,3% do PIB.
Assim, perante esse simples retrato, será que se justificou a opção de fazer diminuir a despesa do Estado pelo lado do corte dos salários dos funcionários públicos? Provavelmente havia outras opções. Na realidade, às vozes da oposição, somam-se a de pessoas como Pacheco Pereira, que afirma que o Governo foi pelo caminho mais fácil.
Essa opção  ignorou que a classe média é o pilar estruturante da coesão social em qualquer sociedade e do crescimento da economia. Aqui se incluem os funcionários públicos, do terceiro setor ou das pequenas e médias empresas e os seus empresários que, em Portugal, representam mais de 90% do setor empresarial. Nos últimos tempos, este tecido social desfez-se e com ele a nossa economia.
Nesta classe média estão incluídas pessoas abrangidas por uma taxa de desemprego de 13,9, em 2014. Aquelas para quem o sentimento de ser útil, ou mesmo indispensável, deixou de existir, mesmo que sejam ajudadas ou continuem a ter habitação e a satisfazer as suas necessidades de sobrevivência. E não vale a pena dizer que a alternativa é tornarem-se empreendedores, porque é uma visão simplista da realidade.
A grande dependência dos salários, com a carga de impostos diretos e indiretos que temos, não permite às famílias fazer poupanças. Quando se vêem confrontadas com problemas inesperados ou mudanças, como seja a entrada dos filhos na universidade, é o caos. Esta fase, então, é especialmente crítica na vida das famílias e tem um impacto negativo no futuro do próprio país porque representa um fator potencial de mobilidade social e de crescimento.
Assim, a celebrar Abril deixo a força das palavras de Vinícius de Morais, numa homenagem à classe média. Se a política não é poesia, a poesia é fundamental para se enfrentar a dureza da realidade.

O operário em construção
"Era ele que erguia casas
 onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão"
(...)
 
in Jornal Diário do Sul, abril 2014

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